Após pressão de autoridades responsáveis pela segurança pública para que seja dado um fim imediato ao acampamento de bolsonaristas perto do Quartel-General do Exército, em Brasília, o indicado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao Comando-Geral do Exército, Julio Cesar de Arruda, deve assumir o posto já na sexta-feira (30/12), dois dias antes da posse do petista.
De acordo com o jornal o Estado de S.Paulo, a data já teria sido combinada internamente entre Arruda e o a atual comandante, Marco Antônio Freire Gomes, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Com a antecipação, o entorno de Lula espera que o tratamento dado aos bolsonaristas acampados mude radicalmente. O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, chegou a chamar os QGs bolsonaristas de "incubadoras de terroristas". O acampamento em Brasília, assim como em frente a outros quartéis do país e em estradas e trevos, teve, até agora, o respaldo da atual cúpula militar do governo Bolsonaro.
A pressão pelo fim da aglomeração bolsonarista em Brasília se intensificou na véspera de Natal, após a descoberta de uma bomba plantada em um caminhão de combustível que iria para o aeroporto de Brasília. O plano teria sido discutido no acampamento.
Desde o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, vencidas por Lula, apoiadores de Bolsonaro que não aceitam a derrota estão acampados em Brasília e em outras cidades. Horas depois da diplomação de Lula, alguns frequentadores do acampamento na capital federal cometeram atos de vandalismo, como queima de carros e ônibus, e tentaram invadir a sede da Polícia Federal.
Os distúrbios começaram logo após a detenção do cacique xavante José Acácio Tsererê Xavante, de 42 anos, apoiador de Bolsonaro, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta terça-feira (27/12), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que a Secretaria de Segurança Pública negocia com o Exército para acelerar a desmobilização do acampamento em frente ao Quartel-General em Brasília.
Segundo ele, cerca de 40 barracas já foram retiradas e a expectativa do governo é que, até o próximo domingo, dia da posse de Lula, haja uma redução na quantidade de manifestantes. "A gente espera que essa desmobilização ocorra de forma natural", disse.
Em coletiva de imprensa no Palácio do Buriti, o chefe do Executivo local destacou que todo o efetivo da Polícia Militar do Distrito Federal atuará na cerimônia de posse. Haverá, ainda, apoio por parte da polícia civil de forma infiltrada, sobretudo, segundo ele, devido aos "últimos acontecimentos", ao se referir à bomba descoberta na véspera de Natal.
O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, participou da reunião. Segundo ele, não há, até o presente momento, nenhum tipo de alteração no roteiro da cerimônia da posse de Lula.
"Obtivemos esse compromisso no sentido de que haverá uma mobilização integral, de 100% do efetivo da polícia militar, da polícia civil e do corpo de bombeiros para garantir segurança não só ao presidente da República e às delegações estrangeiras, mas às pessoas que vão participar do evento", destacou Dino.
Questionado se Lula vai desfilar em carro aberto, ele frisou que a decisão será tomada somente no dia 1º de janeiro e que, além da segurança, deve levar em conta outros fatores, como a situação climática. Alguns membros da equipe de segurança defendem que o presidente eleito faça o trajeto em um veículo blindado – ideia que não é muito bem aceita por pessoas próximas a Lula.
"Temos um grande sistema de inteligência voltado para grandes eventos. Para todos aqueles que estiverem pensando em algo parecido [com o que ocorreu no último sábado], podem ter certeza de que serão repreendidos", reforçou Ibaneis.
"Todas as pessoas que virão para a posse participarão de um evento em paz e retornarão para os seus lares em paz. Não serão pequenos grupos terroristas e extremistas que vão emparedar as instituições da democracia brasileira", completou Dino.
Na noite de sábado (24/12), véspera de Natal, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu o empresário George Sousa, de 54 anos, por plantar um artefato explosivo nos arredores do aeroporto de Brasília. O artefato foi desativado pelo esquadrão antibomba sem causar estragos.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, ele confessou o crime. Sousa é do Pará e viajou a Brasília para participar das manifestações que pedem um golpe militar para impedir a posse de Lula.
Segundo a polícia, o artefato foi encontrado num caminhão de combustível, carregado com querosene de aviação. O motorista do caminhão percebeu que uma caixa havia sido colocada no interior do veículo e acionou a polícia.
O suspeito ainda estava em posse de um arsenal de duas espingardas, um fuzil, dois revólveres, três pistolas, centenas de munições e uniformes camuflados. No apartamento do suspeito, ainda foram encontradas outras cinco emulsões explosivas, do tipo usada em detonações em atividades de mineração.
Segundo o depoimento de Sousa à Polícia Civil, obtido pelo jornal Folha de S.Paulo, ele afirmou que o discurso armamentista de Bolsonaro o incentivou a comprar as armas.
Ele também disse que planejou com outros bolsonaristas reunidos em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília instalar explosivos em pelo menos dois pontos da capital para provocar "caos", que poderia levar à "decretação do estado de sítio" e "provocar a intervenção das Forças Armadas".