‘O bom filho à casa torna.’ O poeta Mario Quintana apresentou uma variante, com seu bom humor habitual: ‘O bom filho a casa entorna’.

O ex-prefeito de Aparecida de Goiás Gustavo Mendanha (Patriota) se fez, em termos políticos, no MDB de Maguito Vilela, Iris Rezende e, sim, Daniel Vilela.

O jovem político foi prefeito do município, duas vezes, guiado pelas mãos seguras de Maguito Vilela, pai de Daniel Vilela. Na primeira disputa para prefeito, um de seus grandes incentivadores foi Daniel Vilela, que o via como um valor moderno e que daria continuidade — positiva — ao avanço constituído pelo pai.

Portanto, Mendanha é “cria” do MDB. Foi forjado pelo partido, e, claro, acrescentou suas características pessoais — como certo arrojo e alta capacidade de divulgar bem sua imagem.

Em 2022, Mendanha rompeu, a contragosto, com o MDB. Disputou o governo e obteve 25,20% dos votos válidos, ou seja, 879.031 votos. Perdeu no primeiro turno.

Ainda assim, com uma votação não tão expressiva, Mendanha colocou seu nome como um player da política de Goiás.

Pós-eleição, contratou advogados para fazer uma consulta no TSE sobre a possibilidade de disputar mandato de prefeito de Goiânia. A rigor, não pode. Portanto, está em busca, digamos assim, de uma brecha na lei, ou criação de uma jurisprudência que lhe permita ser candidato.

As barreiras parecem, porém, instransponíveis. Os Estados Unidos são rigorosos e cumprem as leis: um político só pode ser presidente da República duas vezes, independentemente de consecutivas ou não. Barack Obama, para citar um exemplo, não pode disputar um terceiro mandato. Nunca mais.

Porém, em termos de Brasil, o quadro é outro. Mendanha foi eleito prefeito em 2016 e reeleito em 2020. Embora tenha deixado a prefeitura em abril de 2022, para disputar o governo do Estado, o mandato do político de Aparecida só acaba em 31 de dezembro de 2024, numa terça-feira. Como vice, Vilmar Mariano (Patriota) assumiu para concluir o mandato, mas, a rigor, o mandato permanece sendo de Mendanha. Os eleitores votaram nele e, sim, para um mandato de quatro anos — de 2021 a 2024.

Então, em 2024, se o TSE não aceitar nenhuma chicana jurídica — e a instituição em sido exemplar —, Mendanha não poderá disputar a Prefeitura de Goiânia. Mas poderá disputar em 2028, desde que seu domicílio eleitoral seja transferido para a capital.

Há outro empecilho: Goiânia e Aparecida são cidades conurbadas — praticamente são uma única cidade, com alguns bairros interligados e, às vezes, separados pela mesma rua. Então, se disputar a Prefeitura de Goiânia, Mendanha estará tentando não um primeiro mandato, e sim um terceiro mandato. Não estará dando o intervalo necessário que a lei exige. Noutras palavras, até sua consulta ao TSE é contra a vigência da lei.

Enquanto aguarda o resultado da consulta ao TSE — que certamente obterá resultado negativo —, Mendanha continua a articular politicamente.

De acordo com um político de Aparecida, ligado a Mendanha, o ex-prefeito e o vice-governador Daniel Vilela reabriram conversações. As conversas, de acordo com o interlocutor do líder aparecidense, são as mais diplomáticas possíveis.

“Gustavo disse, com todas as letras, que deverá voltar, em breve, ao MDB”, postula seu aliado. Com qual objetivo? Primeiro, voltar ao “lar”, ou seja, ao partido pelo qual não perdia eleições — dadas a história e a estrutura. Segundo, com o objetivo de disputar mandato de senador em 2026 (a chapa seria assim: Daniel Vilela para governador, com Gracinha Caiado e Mendanha para o Senado).

O acordão está inteiramente fechado? De acordo com o aliado de Mendanha, sim. “Será um retorno com festa. Porque Daniel e Gustavo são praticamente irmãos. Eles têm apreço um pelo outro e precisam um do outro.”