Em 1974, em plena ditadura militar no Brasil, a carta de uma mãe à professora do seu filho chegou às mãos do Exército.
"Aproveito para lhe pedir também por consciência religiosa que isente o Fábio de qualquer participação em festas que sejam alusivas ao dia da Pátria. Saudação à Bandeira e Hino Nacional, enfim, tudo que for idolatria", dizia a mãe.
Ela era seguidora das Testemunhas de Jeová, e sua carta foi incluída em um dossiê sobre esse grupo cristão que foi alvo de vários documentos, reuniões e até infiltrações de agentes do regime militar.
O grupo, criado na segunda metade do século 19 nos Estados Unidos, leva à risca o ensinamento de Jesus Cristo de que seu reino "não faz parte deste mundo".
Na prática, desde o início do século 20, não fazer "parte deste mundo" tem se traduzido, para esses fiéis, na abstenção em eleições, na recusa ao alistamento militar e na não idolatria a símbolos nacionais — esses dois últimos exemplos se revelaram "pedras nos coturnos" dos militares brasileiros na ditadura.