"Investigar para prevenir" — esse é o lema da Diretoria de investigações de incêndios (Dinvi), do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), referência nacional e internacional na perícia de incêndios e na elaboração de estudos com o objetivo de refinar a prevenção de sinistros. Com dois laboratórios de ponta, a diretoria foi responsável, entre 2019 e 2024, por 5,35 mil perícias de incêndios.
Com mais de 50 anos de atuação, a Dinvi é uma das pioneiras na investigação de incêndios no Brasil. As seções de Investigação (Seinv), de Apoio Administrativo (Seaad) e de Projetos, Programas e Desenvolvimento (SEPPD) trabalham, juntas, em assuntos relacionados às apurações de incêndios residenciais, florestais, comerciais, navais e em depósitos.
Segundo o tenente Hoffman Monteiro, da Dinvi, a perícia de incêndio é essencial para entender se as normas exigidas pelo CBMDF estão estabelecidas corretamente e atualizadas, se as formas de combate estão sendo efetivas, e se as informações captadas nos trabalhos de perícia estão sendo utilizadas para aprimorar as práticas operacionais. "Isso é chamado de retroalimentação, que é quando as informações coletadas nas perícias anteriores são estudadas para perfeiçoar o nosso trabalho com técnicas de prevenção, combate e investigação", explica.
O Correio esteve nos laboratórios da Dinvi, que tem 21 membros na equipe, no Setor Policial Sul. Esses espaços são voltados à análise e pesquisa de incêndios químicos e termoelétricos. A reportagem conferiu de perto o trabalho de extrema relevância executado diariamente pelos peritos da corporação.
Um dos laboratórios abriga os equipamentos classificados como mais "sensíveis". São três máquinas com tecnologia de ponta que contribuem para que as causas dos sinistros sejam desvendadas. O infravermelho invisível, o termogravímetro e o cromotógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massa atuaram na perícia de mais de 1.080 incêndios no ano passado e em 957 casos somente neste ano.
O tenente Germano, responsável pela seção de capacitações e treinamento dos peritos, detalha que a máquina de infravermelho identifica substâncias desconhecidas em poucos minutos. Quando é encontrado um material que foi incendiado até sua forma ser distorcida, impossibilitando a identificação, o mecanismo revela se a combinação das substâncias trata-se de plástico, metal ou isopor, por exemplo. "O termogravimetro aquece a amostra coletada no incêndio, em temperatura que pode chegar a 1000°C, então, a gente observa a decomposição térmica e, dessa forma, consegue ter uma ideia de como a substância comporta-se em situação de incêndio", aponta.
O cromotógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massa é a integração de duas máquinas. O custo do equipamento fica na faixa de US$ 1 milhão — o equivalente a R$ 5 milhões. O DF é uma das poucas unidades da federação que o possui. "O cromotógrafo gasoso atua separando substâncias. O espectrômetro de massa quebra a molécula do material em vários pedaços e dá um gráfico. Dessa forma, conseguimos descobrir se há a presença de um ou mais líquidos inflámaveis, como gasolina e querosene", exemplifica.
A perícia do CBMDF não segue a mesma linha que as executadas pela polícia. O trabalho busca desvendar tecnicamente as causas do início das chamas — intencionais, acidentais naturais ou indeterminadas —, sem levantar culpados.
Durante a visita, os militares demonstraram o funcionamento de alguns dos equipamentos. De acordo com o capitão Douglas, chefe do núcleo de investigação e perícia de incêndio, a espuma incendiada em um dos experimentos é evidência de uma ocorrência que ganhou repercussão no DF este ano. Ao entrar em contato com o fogo, a espuma, que não tinha proteção térmica, foi incendiada rapidamente. Ele citou como exemplo, também, a Boate Kiss, que era revestida por espuma do mesmo material e, por isso, foi incendiada rapidamente.
No segundo experimento, os militares pingaram 10 gotas de impermeabilizante no fogo, o suficiente para que grandes chamas se apresentassem em segundos. O CBMDF atua na perícia do incêndio ocorrido em Valparaíso, em agosto, quando um apartamento pegou fogo e vitimou uma família, enquanto um funcionário impermeabilizava o sofá. Essa é uma das linhas de investigação trabalhadas.
O resultado dos esforços unidos às máquinas modernas tornou-se referência nacional e internacional. Os bombeiros do DF ministram cursos de capacitação a colegas de outras regiões do país, além da Polícia Federal, cujos agentes receberam instruções do CBMDF em cursos de especialização em criminalística aplicada a locais de crime, ocorridos em 2021 e 2023.
No âmbito internacional, os métodos de investigação já foram exportados a países como El Salvador, onde a diretoria ministrou cursos em 2011 e 2023. A previsão é de que haja um intercâmbio com os bombeiros de Honduras, em 2025.
São mais de 325 militares de outras unidades da federação capacitados pelos bombeiros do DF, sendo 306 no Curso de Perícia de Incêndio (CPI) e 21 no Curso Técnico de Investigação de Incêndio (CTINV), com destaque para os estados do Maranhão e da Paraíba, cada um com 25 formados.