O Podcast do Correio recebeu, ontem, o psicanalista Christian Dunker para falar sobre administração de perdas e a relação entre trabalho e saúde mental. Em conversa com as jornalistas Denise Rothenburg e Mariana Niederauer, ele observou como as pessoas, no último mês do ano, tentam resolver pendências acumuladas, o que pode gerar sobrecarga emocional. "Parece que as pessoas tentam resolver tudo o que não conseguiram nos meses anteriores", afirmou.
Essa pressão dificulta momentos de pausa e reflexão, fundamentais para encerrar ciclos e iniciar outros. Dunker acredita que o fim do ano é um convite à introspecção e ao planejamento de um novo ciclo. "Aceitar as mudanças e as perdas é fundamental para esse recomeço. Devemos viver o luto e transformá-lo em aprendizado para o próximo ciclo", observou.
Autor de livros como A arte de amar e Luto finito e infinito, Christian também comentou sobre a complexidade das perdas ao longo da vida. Segundo ele, esses lutos vão além dos entes queridos, abrangendo situações, comodidades e amores que se perdem com o tempo. E explicou que essas rupturas fazem parte de um processo constante de transformação pessoal. "A perda, seja de um ente querido ou de uma ideia, molda quem somos. Cada perda nos ensina a viver de forma diferente", disse ele. Para o psicanalista, o luto não deve ser temido, mas aceito como uma etapa natural da vida.
As pressões diárias que afetam o bem-estar emocional das pessoas e como a sobrecarga de tarefas, o ritmo acelerado e a constante busca por produtividade podem levar a um esgotamento mental também foram temas abordados pelo especialista. Ele sugere que mudanças nas jornadas de trabalho, como a adoção de modelos mais curtos, poderiam ser uma solução para reduzir o estresse e promover um equilíbrio mais saudável entre vida profissional e pessoal.
Embora muitos sonhem com uma vida de descanso eterno, Dunker alerta que essa ideia é insustentável. Ele afirmou que a solução para os dilemas da vida não está em escapar da agitação, mas em aprender a lidar com ela. "É tentador imaginar que a vida seria melhor se fosse uma eterna férias, mas isso não é sustentável", explicou.
A busca por tranquilidade pode levar a um vazio interior, especialmente quando usada como fuga. Para o convidado do Podcast do Correio, o descanso sem reflexão não promove felicidade real. Ele destacou que enfrentar as dificuldades da vida é mais importante do que tentar evitá-las. "O descanso pode revelar o vazio interior quando não nos preparamos para ele", comentou.
Christian propõe que a verdadeira paz está na capacidade de administrar o ritmo frenético do cotidiano sem ignorá-lo. Enfrentar os desafios diários, em vez de fugir deles, é o caminho para uma vida mais plena. "A agitação moderna precisa ser entendida, não negada", afirmou.
Para ele, a sociedade precisa rever sua relação com o trabalho e o lazer, equilibrando esses aspectos para promover saúde mental. "Devemos construir um entendimento mais profundo das demandas diárias e encontrar formas de conciliar as tensões", concluiu o psicanalista.
O Podcast do Correio também trouxe à tona a relevância da saúde mental nos dias atuais. Christian Dunker destacou que o sofrimento psíquico não deve ser reduzido a diagnósticos e medicações rápidas. Ele defendeu uma abordagem mais integrada, que considere a complexidade das emoções humanas. "A saúde mental não é ausência de conflito, mas a capacidade de lidar com eles", afirmou.
Após a pandemia, a busca por alternativas terapêuticas aumentou. Muitas pessoas, segundo o psicanalista, estão buscando respostas que vão além da medicação, optando por abordagens mais reflexivas e abrangentes. "Há uma necessidade crescente de entender as causas do sofrimento", observou.
Dunker também enfatizou que o bem-estar psicológico requer atenção a fatores como trabalho, relações sociais e autocuidado. Ele sugeriu que a sociedade precisa abandonar soluções simplistas e abraçar práticas mais profundas de cuidado. "Precisamos de uma visão mais ampla e humanizada para tratar a saúde mental", comentou.
O profissional ainda ressaltou o valor das terapias on-line, que democratizaram o acesso à psicanálise e outras abordagens. Para ele, o futuro da saúde mental depende de integrar essas ferramentas com uma compreensão empática do sofrimento humano. "A tecnologia é um meio, mas não pode substituir a profundidade do cuidado humano", concluiu.
Confira a entrevista completa:
* Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti