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NUNCA EXPERIMENTEI DESRESPEITO TÃO PROFUNDO', DIZ ÁRBITRO QUE DENUNCIOU GESTO NAZISTA DE ADVOGADO NO DF; CITADO NEGA

CASO OCORREU DURANTE PARTIDA DE FUTEBOL PROMOVIDA PELA OAB-DF, NO SÁBADO (22), EM CLUBE DE BRASÍLIA. NA TERÇA-FEIRA (25), ENTIDADE ABRIU PROCESSO PARA APURAR FATOS

Publicada em 26/10/22 às 10:31h - 26 visualizações

IANA CARAMORI, g1 DF


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O ÁRBITRO AUSTRÍACO QUE DENUNCIOU UM GESTO E SAUDAÇÃO NAZISTA DE UM ADVOGADO  (Foto: Clube dos Advogados, da OAB-D - REPRODUÇÃO)

O árbitro austríaco que denunciou um gesto e saudação nazista de um advogado do Distrito Federal disse que a situação é "inaceitável". Ele prefere não ter o nome divulgado. O caso ocorreu durante um jogo de futebol promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), no sábado (22).

Eu nunca experimentei um desrespeito tão profundo. No Brasil as pessoas não compreendem o que o gesto [braço direito levantado] e as palavras 'heil Hitler' realmente significam, e o que fica por trás disso", disse o juiz.

esta terça-feira (25), a entidade abriu um processo para apurar os fatos, que ocorreram no Setor de Clubes Sul, em Brasília. O advogado acusado de fazer o gesto é o presidente da subseção da OAB de BrazlândiaFrançoar Dutra, que nega atitude preconceituosa.

"O que ocorreu foi que me expressei de maneira exagerada no calor do jogo", afirmou, em nota, ao g1.

O advogado afirma apenas que disse que o juiz se comportava de forma “ditatorial”. "Falei na forma coloquial e em sentido figurado, evidentemente", declara Dutra (veja íntegra ao final da reportagem).

Em nota, a OAB-DF disse ainda "que não coaduna com quaisquer atitudes discriminatórias". Já o Sindicato de Árbitros de Futebol do DF (SAF-DF) declarou que repudia o ato e que busca a responsabilização civil e criminal do agressor.

Para o árbitro, o respeito ao próximo não pode ser esquecido nem em momentos de calor de partidas de futebol. "Tem uma máquina de morte inteira atrás desses gestos, e para alguém que vem dessas terras, como eu, por exemplo, a coisa é pior ainda", diz.

A partida entre times formados por advogados de Taguatinga e de Brazlândia fazia parte de um campeonato organizado pelas subseções da OAB-DF. Na súmula feita no fim da partida, o juiz disse que, após uma falta favorável ao time de Brazlândia, o advogado reagiu "de forma ofensiva", ao pedir punição mais severa ao jogador envolvido.

Ainda segundo o documento, o árbitro austríaco, que atuava como auxiliar na partida, se dirigiu ao advogado e pediu para que ele se acalmasse. Ao perceber que o homem não era brasileiro, mas austríaco, "o atleta se afastou e fez o gesto de Hitler, levantando o braço direito, dizendo as seguintes [palavras]: 'Heil, Hitler'", aponta a súmula.

O advogado Kiko Omena estava no local e foi uma das testemunhas da agressão. "O jogo estava um pouco acirrado, mas nada além de uma partida de futebol normal, quando quem a gente achava que era o técnico do time de Brazlândia começou a xingar o auxiliar do árbitro. De repente, ele [o árbitro] começou a chorar e ficar desesperado", contou ao g1.

Kiko diz que foi até o auxiliar para entender o que estava acontecendo. "Mas ele não conseguia falar. Então, pedi para o árbitro parar o jogo e ir entender o que estava acontecendo." O advogado afirma que, depois dos esclarecimentos, o outro jogador foi expulso do campo.

"Depois, [o árbitro reserva] falou que passou por muita coisa difícil e que, no país dele, [o gesto] seria um crime. Foi muito triste. Nunca tinha presenciado nada disso", conta o advogado que testemunhou o caso.

De acordo com Kiko Omena, depois da expulsão da partida, o advogado queria brigar fora do clube com os adversários, momento em que foi acusado pelos outros participantes de ser racista e de ter feito o árbitro estrangeiro chorar. Segundo testemunhas, o advogado Françoar Dutra teria respondido que o homem era "um viadinho por estar chorando".

Apologia ao nazismo

A apologia ao nazismo, usando símbolos, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime no Brasil, com pena de reclusão. Segundo a lei 7.716/1989, também é considerado crime:

Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.

Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

Essa lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta.

O doutor em direito e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Victor Marcel explica que, nesses casos, a alegação de liberdade de expressão não libera o acusado do crime.

"A liberdade de expressão não é absoluta nem no Brasil e em nenhum país do mundo", diz Marcel.

O QUE DIZ O ÁRBITRO AUSTRÍACO OFENDIDO COM GESTO NAZISTA POR ADVOGADO

"O sr. Dutra disse que eu me comportei 'ditatorial'. Isso eu rejeito completamente, porque eu tentei acalmar ele, quem reclamou e gritou demais com meus colegas no campo nessa cena. Um comportamento assim demanda do árbitro reserva atuar e tentar acalmar a situação e manter ordem fora do campo também. Isso é dentro das regras e eu aplico as regras. Regra 5 da FIFA define o arbitro assim: O jogo é disputado sob controle de um arbitro, que tem total autoridade para cumprir as regras do jogo. Regra 6 fala o quarto arbitro deve informar o arbitro sobre condutas incorretas dos integrantes nas áreas técnicas. Normalmente tentamos isso sem acionar o arbitro, e muitas vezes funciona, mas não sempre. E regra 12 define como um das infrações contra as regras: mostrar falta de respeito ao jogo. Gritar, gesticular, tentar pressionar o arbitro etc. é um dessas infrações.

·         O PROBLEMA PERMANECE: NO BRASIL as pessoas não não compreendem que o gesto (braço direito levantado) e as palavras "Heil Hitler" realmente significam e que fica atrás disso. Tem uma máquina de morte inteira atrás desses gestos e para alguém, quem vem dessas terras, como eu, por exemplo, a coisa é pior ainda. Pode ser esse senhor não sabia da minha origem, mas isso não justifica que ele fez. Respeito ao próximo, até em momentos de calor no jogo, não pode ser esquecido. "To be a good sport" em inglês significa: ser um cara legal, alguém que pode viver com derrotas também, alguém que respeita o outro. Nós árbitros demandamos respeito também. Os jogadores sempre demandam respeito de arbitragem para eles, mas só poucos realmente mostram o mesmo respeito para a arbitragem, pelos menos aqui no Brasil. Eu apitei em total para 30 anos agora (completei esse 30 anos em setembro de 2022), 23 deles na federação do meu país. Uma coisa que posso dizer é: o respeito para a arbitragem é maior lá. Sim, pode ter criticas duras, sofri agressões lá também, mas algo assim, nunca. Um gesto assim, junto com as palavras..... não. Isso é inaceitável. Por isso eu fiquei chorando no lado do campo, por a falta de respeito total. Falta de respeito para as vitimas de nazismo, falta de respeito pelo estrangeiro (com certeza ele percebeu pelo meu sotaque eu não sou brasileiro), por falta de respeito para as regras de esporte. Tudo isso junto foi simplesmente demais para mim. Eu nunca experimentei um desrespeito tão profundo.

Nós árbitros queremos respeito, não somos ladrões, somos profissionais como todos que trabalham no futebol em uma forma ou na outra."

 O QUE DIZ O ADVOGADO FRANÇOAR DUTRA QUE, SEGUNDO TESTEMUNHAS, FEZ GESTO NAZISTA PARA ÁRBITRO AUSTRÍACO EM TORNEIO DE FUTEBOL DA OAB-DF

 "CAROS AMIGOS.

Sobre o fato noticiado, ocorrido no dia 22 de outubro, esclareço:

Após reclamar - em partida de futebol acalorada - que um jogador do meu time estava sendo agredido de forma injusta, me senti repreendido de forma excessiva pelo árbitro da súmula, momento em que lhe disse que estava se portando de forma “ditatorial”.

Falei na forma coloquial e em sentido figurado, evidentemente.

Deixo claro que não conheço o referido árbitro, muito menos sabia de sua origem. Sou filho de nordestina e goiano e sou contra qualquer tipo de atitude racista ou xenófoba. O que ocorreu foi que me expressei de maneira exagerada no calor do jogo.

Esclareço ainda que ao fim do jogo me retratei com o árbitro por qualquer inconveniente, momento em que o mesmo aceitou minhas desculpas e ali ficou o acontecido.

Renovo aqui meu pedido de desculpas ao árbitro e me solidarizo com sua história de vida.

Mantendo minha postura de transparência, coloco-me à disposição de todos para esclarecer qualquer dúvida!

 




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