A infecção por doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti pode acarretar sequelas, como a exacerbação de dores, sendo a mais comum a de cabeça. É o que explicou Frank Venâncio, neurologista especialista em dor, nessa quinta-feira (2/5). Ao CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília —, o médico e sócio-fundador da Iaso Medicina da Dor disse que a chikungunya, apesar da menor incidência, não é menos dolorosa quando se trata das complicações posteriores. Às jornalistas Sibele Negromente e Mila Ferreira, o especialista completou que é essencial investigar quando a dor de cabeça é sinal de alerta para dengue, para AVC (acidente vascular cerebral), ou se trata somente uma cefaleia primária, como é a enxaqueca.
Uma das sequelas da dengue é a dor de cabeça. Por que isso acontece?
Quando falamos de uma doença viral como a dengue, é muito comum que o paciente desenvolva uma resposta inflamatória exagerada, porque o corpo está tentando lutar contra aquele vírus para controlar a infecção. Às vezes, infelizmente, essa inflamação que deveria estar protegendo a pessoa acaba por causar alguns danos. Em alguns casos, esse dano ocorre no sistema neurológico. Isso pode ocorrer tanto na fase aguda da dengue, de cinco a sete dias de infecção, quanto nas fases mais tardias. Na fase aguda, a dengue pode comprometer o sistema nervoso e levar o paciente a ficar com sonolência, confusão, com dor de cabeça intensa, muitas vezes, e até desenvolver quadros de meningite ou encefalite. Na fase tardia, de duas semanas até meses depois da infecção, o paciente pode desenvolver desde paralisias a sintomas mais discretos, mais subjetivos, como a dor de cabeça que, frequentemente, acompanha a infecção viral da dengue, mas pode persistir ao longo do tempo.
Quais são as outras sequelas que a dengue pode deixar?
Com a infecção da dengue pode ocorrer exacerbação de outras dores — articulares, musculares e até fibromialgia em pessoas que já têm alguma predisposição.
A dor de cabeça constante pode ser uma predisposição para o AVC?
A dor de cabeça pode ser um sinal de alarme para uma pessoa que vai desenvolver um AVC, por exemplo, um AVC hemorrágico com a ruptura de um vaso sanguíneo. Nesses casos, a chamamos de cefaleia sentinela, na qual ela pode ser um sinal. Além disso, a dor de cabeça pode estar relacionada a uma trombose de uma veia cerebral. Para uma pessoa que nunca teve dor de cabeça e começa a ter de uma hora para outra, é extremamente importante que essa dor seja investigada, não apenas tratada. Em pacientes que têm dor de cabeça crônica com frequência, investigamos a dor e não encontramos absolutamente nada como causador, nenhuma alteração nos exames de imagem, nada que possa justificá-la, nesses casos, a chamamos de cefaleia primária, e a enxaqueca é uma delas.
O paciente que já teve dengue e continua sentindo muita dor de cabeça deve fazer o quê?
Procurar um especialista, com certeza. O primeiro passo antes de tratar a dor do paciente é sempre ter um diagnóstico correto, preciso, porque uma das complicações neurológicas da dengue é a trombose cerebral. Como a dengue altera o sistema de coagulação, o paciente pode tanto ter uma trombose quanto sangrar. Uma vez descartadas essas causas, que chamamos de secundárias, e a depender do perfil da dor de cabeça, existem medicações que podem melhorá-la. O botox é uma delas, dependendo da gravidade.
A chikungunya é outra doença que está crescendo em incidência no DF. Entre os principais sintomas estão as dores nas articulações.
De 80% a 90% dos pacientes que têm chikungunya sofrem uma dor articular de forte intensidade, chamada no meio científico de artralgia. A tendência natural da artralgia é melhorar com o tempo. É claro que, com o tratamento, diminuímos a chance disso persistir e também deixamos todo o processo mais confortável para o paciente. Em alguns casos mais raros, o paciente desenvolve artrite, e pode ter inchaço nas articulações, vermelhidão, o que é visível. Além disso, a articulação pode ficar quente ao toque. No caso específico da artrite, é importante que o paciente acompanhe com o reumatologista, médico especialista em doenças articulares, que terá uma maior capacidade de lidar com o problema.