Enquanto o número de mortes e feridos aumenta na Ucrânia e centenas de milhares de pessoas procuram refúgio em países vizinhos, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão trabalhando para levar profissionais e equipamentos para as áreas mais afetadas pela ofensiva militar russa. Bérengère Guais, coordenadora-geral adjunta de programas de emergência em Paris, explica os desafios e as dificuldades da implementação de atividades na Ucrânia.
1.Como MSF está conseguindo trabalhar na Ucrânia?
MSF está presente na Ucrânia há muitos anos para prestar assistência às populações afetadas pela tuberculose e pelo HIV. Portanto, já temos equipes nacionais e internacionais no país. Hoje, no contexto de guerra, precisamos suspender esses programas regulares e reorientar nossas atividades para atender às necessidades médicas geradas por uma ofensiva militar em larga escala. Estamos mudando de um projeto médico de rotina para uma intervenção de emergência. Por isso, devemos adaptar as atividades de nossos profissionais e convocar especialistas de emergência para atuação focada nas populações afetadas pelo conflito nas zonas mais atingidas. Essa é a nossa prioridade no momento.
2.Qual é o principal desafio?
O desafio mais importante hoje é a identificação dos pontos de acesso às regiões mais afetadas pelos conflitos. Desde segunda-feira, 28 de fevereiro, temos equipes em todos os países vizinhos: Polônia, Moldávia, Romênia, bem como na Rússia e Bielorrússia. Devido à situação caótica nas fronteiras da Ucrânia, com centenas de milhares de pessoas fugindo dos conflitos, é difícil entender quais são as melhores passagens de fronteira para ingressar no país. Estamos trabalhando para trazer equipamentos e profissionais – incluindo cirurgiões – para apoiar a equipe que já está no local e estar operacional o mais rápido possível.
3.Do ponto de vista logístico, como você está conseguindo trazer equipamentos e medicamentos para o país?
Estamos atualmente preparando kits com equipamentos médicos e medicamentos a partir das nossas bases logísticas, especialmente em Bruxelas, na Bélgica, e Bordeaux, na França, que irão transitar pelos países vizinhos antes de entrar na Ucrânia. Também estamos comprando produtos na Polônia para compor kits para algumas associações locais que já nos informaram sobre uma série de insumos essenciais que lhes faltam.
Estamos montando um espaço de armazenamento no oeste da Ucrânia para receber encomendas dentro do país. Dependendo dos desenvolvimentos e oportunidades, tentaremos instalar esses armazéns em outras áreas para expandir nossa capacidade de fornecimento.
4.Como você avalia as necessidades no terreno?
As zonas de conflito estão se movendo rapidamente, mudando a cada hora. É importante que tenhamos uma boa compreensão da dinâmica da ofensiva para avaliar as necessidades, mas também para não colocar nossas equipes em risco. Temos profissionais de MSF na capital Kiev e em várias cidades-chave, como Zhytomyr e Severodonetsk, bem como uma rede de médicos em hospitais e centros de saúde em vários locais que estão nos permitindo começar a construir uma visão maior das necessidades. Em particular, estamos reunindo informações sobre o número de pessoas feridas, como elas foram feridas e a capacidade de cuidados no terreno, a fim de construirmos uma resposta médica adequada.
Há postos médicos avançados? Como é realizado o encaminhamento dos feridos? É possível que os pacientes sejam transferidos de um hospital para outro? Com quais estruturas hospitalares poderíamos iniciar rapidamente as atividades, especialmente as cirúrgicas? Essas são as principais questões que nos colocamos e às quais procuramos obter respostas seguras, claras e detalhadas.
5.Que apoio MSF está prestando aos refugiados nas zonas fronteiriças?
Já doamos itens essenciais para um centro de recepção na Polônia e estamos trabalhando para ampliar nossa resposta. Estamos planejando implantar suporte médico e aumentar a distribuição de cobertores e kits de higiene. Mas já estamos vendo muita solidariedade local e internacional com os refugiados, o que significa que suas necessidades estão bem atendidas no momento. A nossa prioridade é, portanto, cuidar dos feridos na Ucrânia.