Seis anos depois do fim oficial da Minustah, a operação militar de paz liderada pelo Brasil no Haiti, brasileiros devem voltar a atuar na área de segurança do país caribenho, que vive um colapso das instituições, com grande parte da capital, Porto Príncipe, sob controle de cerca de 160 gangues.
Dessa vez, porém, o Brasil não pretende mandar tropas das Forças Armadas Brasileiras para atuarem sob o manto dos conhecidos capacetes azuis, marca das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo ao menos cinco embaixadores brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil, o governo brasileiro está decidido a fornecer treinamento à Polícia Nacional do Haiti (PNH).
"Há, de fato, o comprometimento do governo brasileiro como um todo em apoiar a capacitação das forças de segurança do Haiti. É uma iniciativa que vem sendo coordenada pelo Ministério de Relações Exteriores em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação e com a Polícia Federal (PF)", afirmou à BBC News Brasil o delegado Valdecy Urquiza, diretor de Cooperação Internacional da Polícia Federal (PF).
Discutida há meses em Brasília, a disposição teria sido comunicada ao primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, pelo próprio presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante uma conversa entre os dois líderes no dia 22 de junho, em Paris, na França, segundo fontes ouvidas pela BBC News Brasil.
A cooperação entre as polícias seria o modo pelo qual o Brasil estaria disposto a apoiar o Haiti no combate à onda de violência que gerou ao menos dois mil homicídios e mil sequestros apenas no primeiro semestre de 2023, segundo estimativas da ONU.
Nas próximas semanas, uma equipe da Academia Nacional da Polícia Federal irá a Porto Príncipe para concluir um diagnóstico sobre as principais necessidades das forças policiais do país. Segundo Urquiza, a ideia é que se tenha ao menos uma primeira turma de policiais haitianos, com algo entre 80 e 100 alunos, já treinados ainda este ano, em Brasília, e possivelmente outras centenas submetidos a treinamentos em território haitiano.
Em vez de se lançar ao combate à criminalidade local, como o Exército Brasileiro fez durante 13 anos na área - de 2004 a 2017 - , Urquiza diz que o Brasil quer ver reduções da criminalidade local operada pelo policiamento haitiano treinado pelo Brasil. A participação das Forças Armadas brasileiras na nova atuação está descartada.
"Nós queremos apoiar as forças de segurança do Haiti para que eles tenham condições de manter a atividade de segurança pública no país. Esse é o compromisso do governo brasileiro, da Polícia Federal, para que eles sejam autossuficientes em relação à segurança pública", diz Urquiza.
"Então, (queremos ) formar policiais que sejam multiplicadores, para que rapidamente isso alcance o maior número possível de policiais haitianos, com o objetivo de ver os índices de criminalidade no país reduzidos pela ação da própria força de segurança lo