Segundo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, seria um “erro grave” da Argentina cortar laços com China e Brasil, os dois maiores parceiros comerciais de Buenos Aires
Os discursos agressivos dos chamados “libertários”, membros do grupo político La Libertad Avanza (LLA), do presidente eleito na Argentina, Javier Milei, continuam a ter como alvos o Brasil, a China e, por consequência, os blocos dos quais esses países fazem parte, Mercosul e Brics. Cotada para assumir o ministério das Relações Exteriores, a economista Diana Mondino declarou à agência de notícias russa RIA Novosti que o país não promoverá relações com Brasília e Pequim.
“Vamos parar de interagir com os governos do Brasil e da China”, prometeu ela, o que não é novidade. Em outubro, ao comentar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva contra Jair Bolsonaro, logo depois de confirmado o resultado no Brasil, Mondino escreveu no Twitter que o petista “era claramente a pior opção”.
Se a diplomacia e o governo brasileiro estão cautelosos antes de dar declarações polêmicas, a China adota uma posição mais direta. Curiosamente, Brasil e o país asiático, nessa ordem, são os dois maiores parceiros comerciais da Argentina.
Mas, dentro do universo irracional de Milei, muito semelhante ao de Jair Bolsonaro, isso pouco importa. Durante a campanha, o “libertário” chegou a comparar o governo chinês a um “assassino”. “As pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem e, quando o fazem, são mortas. Você faria comércio com um assassino?”, questionou em agosto.
Nesta terça-feira (21), enquanto Diana Mondino fazia declarações de desprezo a Pequim e Brasília, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, destacou em coletiva de imprensa que as relações com Buenos Aires têm tido bom impulso. Segundo ela, seria um “erro grave” para os argentinos seu governo cortar laços com China e Brasil.
“Os dois lados têm uma forte complementaridade econômica e um enorme potencial de cooperação. A China está disposta a continuar a trabalhar em conjunto com a Argentina para promover a estabilidade e o desenvolvimento a longo prazo das relações bilaterais”, afirmou Mao ao ser questionada pelos repórteres sobre as observações de Mondino.
Ironicamente, o ainda presidente Alberto Fernández visitou Pequim no mês passado e saudou a China como “verdadeira amiga” da Argentina.
Já o presidente Lula tem dado declarações cautelosas ou mesmo bem humoradas. Hoje, disse esperar que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não se inspire na “nova experiência que surgiu aqui pelo continente”. Foi uma referência indireta à promessa de Milei de fechar o Banco Central da Argentina e dolarizar a economia do país.
Lula não comentou sobre a posse de Milei em 10 de dezembro. Mas ele não deve ir, a julgar pelas palavras do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim. Segundo o ex-chanceler, o presidente brasileiro não deverá participar da cerimônia, mas “o Estado brasileiro estará representado”.
Com sua verborragia antidiplomática e inconsequente, Milei se referiu a Lula no começo deste mês classificando o petista de “comunista” e “corrupto”, acrescentando que “por isso ele esteve preso”. Na ocasião, explicou que, se eleito, seus “aliados” seriam os Estados Unidos, Israel e “o mundo livre”. Fiel a seu discurso, conversou em videoconferência com Jair Bolsonaro, que confirmou que estará na posse de Milei em Buenos Aires.
RBA