Donald Trump e Joe Biden responderam a perguntas sobre uma ampla variedade de questões eleitorais durante o debate presidencial organizado pela rede americana CNN na noite de quinta-feira (27/7) nos Estados Unidos.
Os dois candidatos trocaram acusações sobre temas como economia, aborto e imigração.
A BBC Verify, equipe de checagem de fatos da BBC, analisou algumas das declarações feitas durante o debate.
O QUE FOI DITO: Trump disse que Biden "quer aumentar impostos em quatro vezes... Ele quer que os cortes de impostos de Trump expirem".
OS FATOS: O orçamento mais recente dos Estados Unidos do governo Biden não faz referência a quadruplicar os impostos para as famílias comuns.
Na verdade, propõe reduções de impostos para famílias que ganham menos de US$ 400 mil (R$ 2,2 milhões) por ano, em paralelo a aumentos para pessoas com rendimentos mais elevados.
Trump introduziu amplos cortes de impostos em 2017, e muitos devem expirar em 2025.
Mesmo que não sejam prorrogados, isso não equivaleria a um aumento de quatro vezes na tributação das famílias.
Uma análise realizada pelo centro de estudos de tributação Tax Policy Center, com base no orçamento de 2024, concluiu que o 1% dos assalariados mais bem remunerados teria um aumento de 9,7% na tributação.
O QUE FOI DITO: Joe Biden disse: "Mudei isso de uma maneira que agora estamos em uma situação em que há 40% menos pessoas cruzando a fronteira ilegalmente, está melhor do que quando ele [Trump] deixou o cargo".
OS FATOS: Desde que Biden introduziu regulamentos no início de junho restringindo o direito daqueles que cruzam a fronteira de pedir asilo, as travessias ilegais da fronteira estão, em média, a cerca de 2 mil casos por dia, de acordo com dados do Departamento de Segurança Nacional obtidos pela rede CBS News, parceira de notícias da BBC.
Isso representa uma queda de 47% em relação à média diária de 3,8 mil em maio.
Em 2019, durante o governo Trump, as travessias ilegais atingiram um pico de 4,3 mil. Mas houve meses durante a pandemia de covid-19 em que a média de travessias ilegais foi inferior a 2 mil.
Desde fevereiro de 2021, afirma o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, foram registrados 9,6 milhões "flagrantes" de pessoas cruzando a fronteira sul, por parte de agentes de segurança.
Isso não significa que esse número de pessoas entrou nos Estados Unidos, uma vez alguns dos flagrantes podem ter sido da mesma pessoa várias vezes. Outras pessoas podem ter sido rejeitadas ou deportadas.
Em relação ao aborto, Biden disse que, se for eleito para um novo mandato, restabeleceria a decisão sobre o caso Roe x Wade, uma decisão histórica da Suprema Corte que garantia o direito ao aborto em todo o país até que o feto se tornasse capaz de sobreviver fora do útero (após cerca de 24 semanas) e que teve seus efeitos revertidos pela Suprema Corte em 2022.
Quando questionado se apoia limites legais sobre até quando uma mulher deve ser capaz de interromper uma gestação, o presidente indicou seu apoio ao arcabouço legal da decisão Roe x Wade.
O QUE FOI DITO: Trump respondeu: "Então isso significa que ele pode tirar a vida do bebê no nono mês e até mesmo após o nascimento. Ele está disposto a, como dizemos, arrancar o bebê do útero no nono mês e matar o bebê".
OS FATOS: O arcabouço legal de Roe x Wade afirma que, durante o segundo trimestre, um Estado americano pode permitir o aborto apenas para proteger a saúde da mulher. Durante o terceiro trimestre, pode permitir ou proibir o aborto em prol do interesse do feto, exceto quando for necessário para preservar a vida ou a saúde da mulher.
Durante a campanha de 2016, Trump prometeu anular a decisão do caso Roe x Wade, que foi revogada em 2022 pela Suprema Corte, que incluía três juízes nomeados por Trump.
Matar um recém-nascido é ilegal em todos os Estados dos Estados Unidos, e nenhum Estado está tentando aprovar uma lei que mudaria isso.
Menos de 1% dos abortos no país acontecem a partir de 21 semanas de gestação, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).
E 93,5% dos abortos acontecem no primeiro trimestre, ou seja, antes das 13 semanas.
O QUE FOI DITO: Biden disse que é o único presidente na última década que não teve durante seu governo "nenhum soldado morrendo em nenhum lugar do mundo, como aconteceu com ele [Trump]".
OS FATOS: Três militares americanos foram mortos em um ataque na Jordânia em janeiro deste ano.
Durante a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão em agosto de 2021, no primeiro ano de Biden na Casa Branca, 13 militares americanos foram mortos em um ataque no aeroporto de Cabul pelo IS-K, o braço afegão do Estado Islâmico.
De acordo com dados do Sistema de Análise de Baixas de Defesa, 65 militares dos Estados Unidos foram mortos em combate durante o governo Trump, de 2017 a 2020.
O QUE FOI DITO: Em determinado momento do debate, Biden afirmou que o desemprego entre os negros "é o mais baixo desde há muito, muito tempo".
OS FATOS: Embora seja verdade que a taxa de desemprego entre negros atingiu uma baixa recorde durante um dos meses do governo Biden, a afirmação carece de contexto.
De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, a taxa de desemprego entre negros chegou a 4,8% em abril de 2023 sob a gestão de Biden, uma mínima histórica na época.
Desde então, voltou a subir, e se encontrava em 6,1% em maio.
No entanto, a taxa de desemprego entre negros durante o governo Trump caiu para 5,3% em agosto e setembro de 2019, também recorde na época.
O QUE FOI DITO: "Ele [Biden] tem o maior déficit da história do nosso país", disse Trump.
OS FATOS: De acordo com dados do Tesouro americano, o déficit atingiu um pico de US$ 3,13 trilhões (R$ 17,4 trilhões) enquanto Trump estava na Casa Branca.
Em 2023, com Biden no cargo, caiu para US$ 1,7 trilhão (R$ 9,4 trilhões).
O QUE FOI DITO: Trump disse no debate que Biden herdou "quase nenhuma inflação" quando assumiu o cargo e que, agora, "a inflação está nos matando".
OS FATOS: Quando Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, a inflação era de 1,4% pela medida de inflação mais utilizada, o Índice de Preços ao Consumidor, com base no gasto médio nas áreas urbanas.
O índice aumentou significativamente durante os primeiros dois anos do seu governo, atingindo um pico de 9,1% no ano em junho de 2022.
Este cenário era comparável ao de muitos outros países ocidentais, que registraram taxas de inflação elevadas em 2021 e 2022, em decorrência sobretudo dos problemas da cadeia de abastecimento global em consequência da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia.
Desde então, a inflação nos Estados Unidos tem caído de forma constante, ficando em 3,3% no mês maio, segundo os dados mais recentes.
Desde que Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, os preços subiram cerca de 20% no total.
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