Em meio a uma eleição contestada pela oposição e por grande parte da comunidade internacional, Nicolás Maduro, de 61 anos, foi anunciado como vencedor da eleição para presidente da Venezuela pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), autoridade eleitoral do país.
Se permanecer no cargo por outro mandato, Maduro ocupará a presidência por mais seis anos, continuando o projeto bolivariano iniciado por seu mentor, Hugo Chávez (1954-2013).
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Herdeiro de Chávez
Embora não tenha a mesma popularidade que Chávez, Maduro adota uma postura populista semelhante.
Ele utiliza seu passado como motorista de ônibus para reforçar sua imagem de "homem do povo" e frequentemente dança salsa com sua esposa em programas de TV, além de aproveitar qualquer oportunidade para praticar esportes como beisebol, basquete e boxe.
Sua escolha como sucessor de Chávez em 2012 surpreendeu muitos, que esperavam que o ex-líder venezuelano nomeasse Diosdado Cabello, um militar impulsivo, como presidente interino durante seu tratamento em Cuba.
No entanto, Chávez optou por Maduro, que na época era vice-presidente após passar seis anos como ministro das Relações Exteriores.
Maduro e Chávez tinham uma longa amizade. Maduro manifestou publicamente seu apoio à libertação de Chávez quando este foi preso por tentativa de golpe em 1992. Foi nesse período que conheceu sua futura esposa, Cilia Flores, advogada de Chávez.
Além disso, Maduro era um dos poucos confidentes de Chávez com acesso aos detalhes de seu diagnóstico de câncer, uma condição mantida em segredo de Estado até a morte de Chávez, em março de 2013.
Maduro também participou da Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Bolivariana de 1999 e foi eleito deputado e presidente do Legislativo em 2005.
Como ministro das Relações Exteriores a partir de 2006, era conhecido por sua cortesia nos círculos diplomáticos latino-americanos e por suas críticas ferozes aos EUA, promovendo uma política externa desafiadora a Washington e se aproximando de governos rivais.
Apesar dos elogios de Chávez como um "tremendo chanceler", Maduro também enfrentou controvérsias, como chamar o subsecretário de Estado dos EUA, John Negroponte, de "funcionariozinho".
Após a morte de Chávez, Maduro venceu a eleição subsequente com uma margem estreita, derrotando Henrique Capriles por 1,6 ponto percentual — um resultado contestado por Capriles.
Em 2018, Maduro foi reeleito com uma ampla margem, em eleições amplamente criticadas pelos que não a consideraram livres nem justas.
Entre suas conquistas estão a manutenção do controle interno no PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e o apoio das Forças Armadas, assegurado por seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, que ocupa o cargo há quase uma década.
O apoio militar foi crucial quando, em janeiro de 2019, Juan Guaidó, então líder da Assembleia Nacional controlada pela oposição, se autoproclamou presidente legítimo, alegando que a reeleição de Nicolás Maduro em 2018 foi fraudulenta.
As expectativas da oposição de que Guaidó tomaria o palácio presidencial foram rapidamente frustradas, com todas as principais instituições permanecendo sob firme controle do governo e dominadas por aliados até hoje.
Desconfiado de influências externas, Maduro se cerca de um grupo seleto de políticos de confiança, que ele rotaciona por diferentes cargos de alto escalão.
Entre esses aliados está Delcy Rodríguez, que já atuou como ministra de Comunicações, ministra de Relações Exteriores e, mais recentemente, como vice-presidente.
Seu irmão Jorge também é um aliado próximo, presidindo atualmente a Assembleia Nacional controlada pelo governo.
Nos últimos anos, Nicolás Maduro Guerra, filho de Maduro também conhecido como Nicolasito, se somou à lista de parentes do mandatário com influência nos rumos do país - e vem despontando como possível sucessor do pai.
Deputado na Assembleia Natural, ele afirmou na semana passada em entrevista ao jornal espanhol El País que seu pai deixaria o poder se fosse derrotado na eleição.
Disputa contra EUA
Em 2020, Maduro e alguns membros de seu círculo íntimo — incluindo seu ministro da Defesa — foram acusados pelas autoridades dos EUA de "narcoterrorismo" e tráfico de drogas.
Maduro usa essas acusações para se posicionar como defensor contra as "forças imperialistas dos EUA", alegando que os ataques são uma retaliação por sua defesa do povo e responsabilizando as sanções americanas pela crise econômica da Venezuela.
Quase oito milhões de venezuelanos deixaram o país na última década devido à escassez generalizada e à crescente repressão política.
Para tentar conter o colapso econômico, Maduro relaxou algumas das rígidas regulamentações de moeda estrangeira introduzidas por Chávez em 2019.
Embora a escassez tenha diminuído, aqueles sem acesso à moeda estrangeira ainda enfrentam dificuldades.
Apesar de contar com a máquina pública a seu favor, a popularidade de Maduro caiu drasticamente, principalmente devido à crise econômica durante seu governo.
No entanto, seu partido socialista, o PSUV, ainda tem um núcleo fiel de apoiadores e um número considerável de pessoas que se beneficiaram financeiramente de seu governo.
Recentemente, durante a corrida presidencial, com pesquisas de intenção de voto sugerindo uma possível derrota para González, Maduro intensificou sua retórica beligerante, mencionando o risco de um "banho de sangue" e uma "guerra civil".
Desafios
Embora tenha sido anunciado como vencedor das eleições, ele ainda enfrentará desafios significativos tanto dentro quanto fora da Venezuela, segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil.
Segundo eles, Maduro precisará garantir a transparência dos resultados eleitorais para manter sua legitimidade no poder.
Laura Dib, diretora do Programa da Venezuela na WOLA (Escritório de Washington para a América Latina), alerta que, sem transparência e legitimidade, Maduro pode enfrentar "isolamento internacional, pressão econômica e aumento da migração, o que afetaria ainda mais a sociedade civil venezuelana".
Segundo ela, "isso representaria o pior cenário para a sociedade civil e exigiria uma avaliação de como o governo poderia manter a governabilidade sem legitimidade".
Phil Gunson, analista sênior da consultoria Crisis Group, baseado em Caracas, observa que ainda "é muito cedo" para fazer uma previsão clara, mas acredita que "Maduro será significativamente enfraquecido, tanto internacionalmente quanto dentro do chavismo".
Também pesam contra Maduro uma recompensa de US$ 15 milhões (R$ 85 milhões) por sua captura sob acusações de "narcoterrorismo" e uma investigação no Tribunal Penal Internacional (TPI) por supostos crimes contra a humanidade cometidos pelas forças de segurança durante a repressão a protestos antigovernamentais em 2017.
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