O cenário econômico de 2024, com taxas de juros elevadas, não impediu o crescimento das concessões de crédito para as famílias brasileiras. De acordo com os dados divulgados pelo Banco Central, as liberações de novos empréstimos e financiamentos para pessoas físicas aumentaram 13,2% no acumulado do ano até novembro.
No entanto, os números mensais mostraram um recuo nas concessões de crédito, refletindo os efeitos de um crédito mais caro e as mudanças no cenário macroeconômico. Neste artigo, vamos explorar os dados detalhados do Banco Central sobre o crédito livre, as taxas de juros, o comportamento das famílias e as tendências que têm moldado o mercado de crédito no Brasil.
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Crescimento nas Concessões de Crédito em 2024: O Impacto dos Juros Altos
O aumento das concessões de crédito para pessoas físicas em 2024 é um reflexo de um fenômeno complexo. Apesar do cenário de juros elevados, que tende a desestimular o consumo e o endividamento, as concessões cresceram 13,2% até novembro. Esse crescimento é um reflexo de diversas dinâmicas econômicas, incluindo a demanda por crédito para consumo e investimentos pessoais.
O Comportamento do Crédito Livre
O crédito livre é aquele cujas condições são livremente pactuadas entre bancos e clientes, sem a interferência do governo. Este segmento é particularmente afetado pelas mudanças na taxa de juros, que tem se mostrado elevada desde o início de 2024.
Mesmo com a alta da taxa Selic, que chegou a 11,25% ao ano em novembro, o volume de concessões de crédito livre para pessoas físicas se manteve robusto, alcançando R$ 283,6 bilhões em novembro.
Embora o crescimento anual seja positivo, a comparação mensal mostra uma redução de 2,2% nas novas liberações de crédito em novembro. Em outubro, o montante liberado foi de R$ 289,9 bilhões. Este recuo mensal é um reflexo de fatores sazonais, além de um endurecimento nas condições de crédito.
Taxas de Juros e Seus Efeitos no Crédito para Famílias
As taxas de juros têm desempenhado um papel crucial no cenário de concessões de crédito. Em um ano marcado por uma política monetária restritiva, os bancos têm cobrado taxas mais altas, o que impacta diretamente o acesso ao crédito pelas famílias.
Aumento nas Taxas de Juros
A taxa média de juros anual cobrada de pessoas físicas nas operações de crédito livre subiu de 52,6% em outubro para 53,4% em novembro, o que representa uma elevação de 0,8 ponto percentual.
No caso do rotativo do cartão de crédito, a taxa média anual aumentou ainda mais, alcançando 445,8%, o maior patamar em 18 meses. Esse aumento de 6,9 pontos percentuais em relação a outubro reflete o custo mais alto do crédito no Brasil, especialmente no crédito de curto prazo, como o rotativo.
Endividamento das Famílias
O endividamento das famílias, embora tenha mostrado uma leve queda de 0,1 ponto percentual no mês de outubro, continua em níveis elevados, atingindo 47,9%. Esse número revela que quase metade das famílias brasileiras está comprometida com dívidas.
O comprometimento de renda também caiu ligeiramente, para 26,3%, mas ainda está em um nível preocupante, pois significa que uma grande parte da renda das famílias está sendo destinada ao pagamento de dívidas.
O Impacto da Alta da Taxa Selic e as Perspectivas para 2025
A alta da taxa de juros é um dos principais fatores que têm influenciado o comportamento do mercado de crédito. Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 12,25% ao ano.
O Copom também sinalizou a possibilidade de mais dois aumentos em 2025, o que sugere que o custo do crédito continuará elevado no próximo ano. Apesar disso, o Copom destacou que os mercados de crédito e de capitais têm surpreendido positivamente, com o volume de concessões superando as expectativas.
No entanto, o Banco Central também alertou para a necessidade de cautela, devido ao nível elevado de inadimplência e ao comprometimento de renda das famílias. Em um cenário de juros altos, as instituições financeiras devem adotar uma postura mais prudente na concessão de crédito, considerando a saúde financeira dos tomadores de empréstimos.
A Inadimplência no Crédito: Tendências e Dados
A inadimplência, um dos principais indicadores de risco para o sistema financeiro, tem mostrado sinais de melhora em algumas modalidades de crédito.
No crédito livre, a inadimplência caiu 0,1 ponto percentual no mês de novembro, situando-se em 4,3% da carteira. Embora essa redução seja positiva, o nível de inadimplência ainda é preocupante, considerando o elevado endividamento das famílias.
Modalidades de Crédito que Mais Cresceram em 2024
Apesar das dificuldades impostas pelos juros elevados, algumas modalidades de crédito mostraram crescimento expressivo. O crédito pessoal não consignado, a aquisição de veículos e o cartão de crédito à vista foram as principais modalidades que impulsionaram o aumento das concessões em 2024.
Crédito Pessoal Não Consignado
O crédito pessoal não consignado, aquele em que o pagamento das parcelas não é descontado diretamente da folha de pagamento, teve um aumento de 1,2% no estoque de crédito em novembro. Essa modalidade tem se mostrado uma alternativa importante para as famílias que buscam financiar despesas pessoais sem a exigência de vinculação salarial.
Crédito para Aquisição de Veículos
Outro segmento que se destacou foi o financiamento para aquisição de veículos, com um crescimento de 1,5% no mês de novembro. Este tipo de crédito é uma das principais formas de aquisição de bens duráveis no Brasil e continua atraindo famílias que buscam a renovação de seus automóveis.
Cartão de Crédito à Vista
O cartão de crédito à vista, modalidade sem parcelamento, registrou um aumento de 2% no estoque de crédito. Isso pode ser interpretado como uma forma de financiamento mais acessível, uma vez que os juros são mais baixos que no crédito rotativo.
O Futuro do Crédito no Brasil: Expectativas para 2025
O mercado de crédito no Brasil enfrenta um cenário desafiador em 2025, com taxas de juros altas e um ambiente de inflação controlada. A previsão é de que, mesmo com os juros elevados, as concessões de crédito continuem crescendo, mas de maneira mais moderada, à medida que as famílias busquem formas mais sustentáveis de financiar suas dívidas.
Expectativa de Estabilidade no Crescimento do Crédito
Os dados apresentados pelo Banco Central indicam que a expansão do crédito tem se mantido estável nos últimos meses, com uma variação pequena, entre 10,4% e 10,7%. Esse ritmo estável pode continuar nos próximos meses, com a manutenção da alta de juros e uma provável desaceleração nas concessões de crédito para pessoas físicas.
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