Em várias ocasiões, Vladimir Putin declarou-se contrário a um cessar-fogo imediato na Ucrânia. Pressionado pelo ucraniano Volodymyr Zelensky a aceitar a proposta de trégua de 30 dias apresentada pelos Estados Unidos, durante reunião em Jidá (Arábia Saudita), na terça-feira (11/3), o presidente russo se vê em uma encruzilhada: mudar de posição e aceitar a pausa nos combates ou prosseguir com a guerra e contrariar a Casa Branca. "Agora, a decisão é 100% do país (Rússia), porque os Estados Unidos demonstraram sua posição. A Ucrânia demonstrou sua posição, e a Rússia tem que responder", declarou Zelensky em uma entrevista coletiva em Kiev. Por sua vez, o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que espera que "haja um cessar-fogo". "Se conseguirmos, acredito que estaremos em 80% do caminho para acabar com esse massacre horrível", afirmou o republicano. "Agora depende da Rússia", acrescentou, ao anunciar o envio do emissário Steve Witkoff a Moscou nesta semana.
Trump admitiu a possibilidade de impor pesadas sanções contra a Rússia, caso não aceite a proposta dos EUA. "Posso fazer coisas financeiras que seriam muito ruins para a Rússia. Não quero fazer isso porque quero alcançar a paz", disse, ao complentar que houve "mensagens positivas" de Moscou. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, prevê para "muito em breve uma conversa telefônica de alto nível entre Trump e Putin".
Presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento da Ucrânia entre 2014 e 2019 e cofundadora do Centro Internacional para a Vitória Ucraniana (em Kiev), Hanna Hopko afirmou ao Correio não acreditar em um cessar-fogo. "Putin quer vencer a guerra. Mas a economia russa está muito fraca, com vários problemas. Putin precisa ganhar tempo. Por isso, ele quer capturar o momento da trégua para obter concessões da Ucrânia. Não se pode alcançar uma paz sustentável sem punir ou responsabilizar o agressor", disse. Ela defende outra abordagem para que Putin mostre-se mais propenso às negociações. "Em primeiro lugar, você tem que impor pesadas sanções em uma etapa de pré-negociação e pressionar a Rússia. Se Trump quer tornar os EUA grandes novamente, tem que demonstrar força e fazer com que Putin pare de atacar a Ucrânia diariamente", opinou Hopko.
Para Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev), uma trégua de 30 dias seria muito positiva para a Ucrânia. "Se Putin aceitá-la, terá problemas para manter a guerra em larga escala. A Ucrânia, por sua vez, encontrará uma chance de preservar a soberania absoluta, enquanto pátria", afirmou à reportagem. O estudioso também disse ter "fortes dúvidas" de que Putin aprovará a interrupção dos combates. "A diplomacia russa tentará postergar as negociações sobre o cessar-fogo tanto quanto possível. A Rússia continuará com a guerra gradual e tentará capturar as regiões de Kursk e Donbass, além de fazer avanços em Zaporizhzhya", explicou. Burkovsky avalia que os desdobramentos do conflito dependem de Trump. "É preciso saber se ele anunciará mais sanções e se enviará mais armas à Ucrânia. A Rússia usará uma eventual hesitação para prosseguir com a operação militar."
"Donald Trump está preso na lógica russa para colocar mais pressão sobre a Ucrânia. É estranho termos os EUA como mediadores, mas não os queremos do lado da Rússia. Sessenta e quatro por cento dos ucranianos defendem que o país não deve aceitar negociações, sem obter garantias reais de segurança."
Hanna Hopko, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento da Ucrânia entre 2014 e 2019 e cofundadora do Centro Internacional para a Vitória Ucraniana (ICUV), em Kiev
"O cessar-fogo de 30 dias seria um desenvolvimento muito positivo para a Ucrânia. Se Putin aceitar essa trégua, significa que eles terão problemas em prosseguir com uma guerra em larga escala. Os russos estão exaustos. A Ucrânia terá uma forte chance de preservar a sua soberania absoluta como pátria. Moscou não terá poder suficiente para prosseguir com a guerra."
Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev)