O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará um Congresso com maioria adversária, o que dificulta alianças para a governabilidade a partir de 1º de janeiro, segundo jornalistas da Folha reunidos em live após a vitória do petista nas eleições deste domingo (30).
Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, afirmou enxergar um quadro de bastante equilíbrio na política brasileira, em geral, com governadores eleitos por coalizões próximas tanto a Lula quanto a Jair Bolsonaro. No Congresso, os partidos que orbitam o petista tiveram bom desempenho, "mas não tão bom quanto seu adversário".
"São 122 deputados federais [na aliança de Lula], parece muito, mas é 24% da Câmara. Não são suficientes para segurar um processo de impeachment. Se tirar os três partidos da aliança de Bolsonaro, o PT tem algo como 64% da Câmara para prospectar. A necessidade de costurar alianças é bastante desafiadora, arrisco dizer que até mais que no primeiro mandato de Lula."
O repórter Ranier Bragon apontou a formação de uma maioria sólida no Congresso como o principal problema de Lula agora, apesar de o presidente que é eleito sempre chegar à cadeira com forte poder de negociação.
Os primeiros alvos de Lula, segundo a avaliação de Bragon, serão partidos como União Brasil e MDB. "Mesmo assim, é uma base nada confortável, se não tiver o Centrão não consegue aprovar uma PEC. Mas atrair o Centrão não é tão difícil assim."
Ele lembrou que nas próximas semanas começam a se definir as eleições para Presidência da Câmara e do Senado. "Rodrigo Pacheco deve se reforçar entre os senadores, a grande incógnita é a Câmara. Arthur Lira se associou muito ao bolsonarismo, comandou a aprovação das principais medidas para a reeleição do atual presidente. A grande dúvida será saber o que Lula, como presidente eleito, vai fazer em relação a essa Câmara. Vai compor, vai ter chapa, vai manter as emendas de relator?"
A colunista Mônica Bergamo apontou que o atual presidente conseguiu construir essa maioria sólida no Congresso, "com a diferença de que ele era de direita". "Lula já fez várias concessões à direita, mas de fato está mais à esquerda do que o Congresso que ele vai pegar."
A experiência do ex-presidente, segundo ela, mostra que ele deve conseguir fazer essa costura, mas "há uma expectativa de que o governo seja parecido com os anteriores". E como apontou Mota, hoje o presidente da República tem menos força para arregimentar bases parlamentares —por causa de fatores como a execução obrigatória de emendas, que nos primeiros mandatos de Lula obedeciam ao arbítrio do Executivo.
"O cenário é mais adverso", apontou Bergamo. "Temos Bolsonaro muito consolidado como liderança, e ele ganhou a máquina de São Paulo, comandada por uma pessoa hoje totalmente subordinada a ele. Lula terá uma oposição forte, respaldada por um ex-presidente com 58 milhões de votos."
A TV Folha realizou neste domingo uma programação especial ao vivo sobre as eleições de 2022, com jornalistas, colunistas e convidados comentando os resultados das urnas. Todos os vídeos estão no canal da Folha no YouTube (www.youtube.com/folha).
Nesta segunda-feira, Mônica Bergamo volta a participar de uma live neste canal às 18h ao lado do colunista Bruno Boghossian e da diretora do Datafolha, Luciana Chong.