O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, que tentou ajudar a Venezuela, mas que o presidente daquele país, Nicolás Maduro, terá que "arcar com as consequências" por causa da eleição de 28 de julho — com inúmeros indícios de fraude, devido à falta de transparência, e com perseguição a opositores. Ele reafirmou que não reconhece a vitória de Maduro nem a do opositor, Edmundo González.
"O Maduro que cuide de lá (Venezuela). Ele que arque com as consequências do gesto dele, e eu arco com as consequências dos meus. Tenho consciência de que tentei ajudar muito, mas muito", enfatizou Lula, em entrevista à Rádio PB, da Paraíba.
Lula negou ter relação ideológica com Maduro, mas destacou que sempre procurou manter bom relacionamento com a Venezuela em função da fronteira de 2.199km entre os países. Além disso, as duas nações mantêm uma antiga relação comercial amplamente favorável ao Brasil — no acumulado de janeiro até a terceira semana de agosto, o superavit era de US$ 215,14 bilhões.
"Ele (Maduro) fez uma opção política. Não aceito nem a vitória dele, nem a da oposição. A oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas não tem prova. Estamos exigindo é a prova. Ele tem direito de não gostar, porque falei que tem que convocar novas eleições", frisou.
Nos Ministério das Relações Exteriores (MRE), a afirmação de Lula foi bem recebida. Isso porque endossa o esforço dos diplomatas, rejeitado por Caracas, para a intermediação de um diálogo entre Maduro e a oposição.
Na entrevista, Lula foi cobrado sobre o relacionamento com o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega — que determinou a expulsão do embaixador brasileiro do país, depois de não comparecer ao evento de celebração da Revolução Sandinista, em 19 de julho. Em reação, o Brasil também expulsou a representante diplomática de Manágua.
"No Sete de Setembro, convidamos todos os embaixadores. Você acha que, se um embaixador não for, vou mandá-lo embora do Brasil? Ele não é obrigado a ir, vai se quiser, se tiver vontade. Esse comportamento não aceito", enfatizou Lula.
A ditadura nicaraguense tem prendido e expulsado católicos, alegando que tentam desestabilizar o governo. Os religiosos denunciam as violações aos direitos humanos que testemunham à comunidade internacional.
"O Ortega enveredou por um caminho há muito tempo. Fui a Roma e o Papa Francisco pediu para eu conversar com o Ortega para liberar um bispo preso. Liguei e ele inventou 500 mil desculpas para não me atender. Parei de ligar", explicou.
Na cúpula da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), que reúne nações aliadas da Venezuela, na última segunda-feira, Ortega criticou a atuação de Lula e do presidente colombiano, Gustavo Petro, sobre a eleição venezuelana. Acusou-os de competirem para ver "quem representa melhor" os interesses dos Estados Unidos no continente. Já Maduro afirmou que rejeitou o pedido do Brasil para repassar a solicitação do Papa a Ortega porque tem interlocução com Vaticano. Segundo ele, "Lula se incomodou" com isso. (Colaborou Vinicius Doria)